50 anos do Decreto Inter Mirifica: segundo documento aprovado no Concílio
O
Concílio Ecumênico Vaticano II foi o 21º Concílio da Igreja Católica e é
considerado um dos mais importantes eventos na história eclesial, em todos os
tempos, como o novo pentecostes para a vida das comunidades católicas. Nesse
Concílio, pela primeira vez na história da Igreja, discute-se sobre os Meios de
Comunicação Social (MCS), culminando com a publicação de um documento oficial: Inter
Mirifica(Entre os admiráveis).
E isto se reveste de importância maior, se se considera que um documento
conciliar vai bem mais além que uma declaração individual de um papa, feita por
uma carta encíclica, ou um discurso, pronunciado em certas ocasiões especiais.
Nasceu,
então, num contexto de muitos debates, reflexões e reuniões, a tão esperada
palavra do Magistério sobre os MCS. Trata-se do Decreto Inter Mirifica, que
foi o segundo dos 16 documentos aprovados no dia 4 de dezembro de 1963, sendo
também o documento do Vaticano II aprovado com o maior número de votos
contrários. Alguns autores atribuem a oposição ao decreto às críticas feitas
por vários jornalistas de importantes jornais da Europa e da América do Norte.
Durante a discussão dos 114 parágrafos que constituiriam este Decreto,
criaram-se entre os jornalistas e pessoas ligadas a comunicação social, três
correntes de oposição ao mesmo: uma francesa, outra americana e outra alemã.
Possivelmente, a influência destas correntes opositoras contribuiu em muito
para a redução destes números para 24 parágrafos, texto final de aprovação do Inter
Mirifica.
Mesmo diante deste quadro de redução
do texto original, o Decreto foi mais positivo e matizado do que os demais
documentos pré-conciliares. O documento se compõe de 24 artigos que estão
dispostos em 2 capítulos, cada qual com 10 artigos, e mais 2 artigos para
introdução e 2 para a conclusão.
A Igreja apresenta, então, em um
discurso doutrinário e vigilante, as normas para uma formação cristã no
reto uso dos MCS. Portanto, entre estes princípios, apresentamos com destaque,
as normas da lei moral. “Considerem, portanto, o conteúdo do que é comunicado,
de acordo com a natureza particular de cada instrumento; igualmente tenham
presente todas as circunstâncias, isto é, a finalidade, as pessoas, o lugar, o
tempo, e outros dados pelos quais se atua a própria comunicação e que podem
mudar ou inteiramente alterar sua bondade moral. Entre estes, enumera-se o modo
de agir próprio de cada instrumento, isto é, a sua força de sugestão que chega
a ser tão grande que os homens, sobretudo se insuficientemente preparados,
dificilmente poderão percebê-la, dominá-la e, se for o caso, rejeitá-la”, (IM
4).
Segundo a seqüência do texto, algumas
questões, hoje controvertidas, necessitavam de uma especial atenção para a
formação da reta consciência. Primeiro, o direito à informação, possibilitando
o conhecimento mais perfeito e contínuo dos fatos, de modo que promovesse o bem
comum e a dignidade da pessoa humana, de acordo com a verdade, a justiça e a
caridade; e segundo, o direito à informação que se dá na relação entre ética e
estética, ou seja, a arte e as normas da lei moral. E neste aspecto, o discurso
pontifício parece bem firme: “o Concílio declara que, indistintamente, todos
devem professar a primazia da ordem moral objetiva, pois é a única que supera e
harmoniza todas as demais ordens de atividades humanas, por mais respeitáveis
que sejam, não excluindo a da arte. Com efeito, somente a ordem moral atinge,
em toda a sua natureza, o homem, criatura racional de Deus, chamada ao
sobrenatural, e se for fiel e integralmente guardada, leva-o à consecução da
perfeição da plena felicidade” (IM 6).
O texto, além de apresentar os
deveres dos receptores, autores, das autoridades civis, se preocupa especialmente,
com os jovens: “Esforcem-se, por entender mais a fundo o que ouvem,lêem e
vêem; discutam sobre isso com educadores e peritos na matéria e aprendam a
formular uma apreciação exata” (IM, 10). E para os pais, a orientação de que o
dever deles consiste na vigilância para que os espetáculos, imprensa e outras
coisas deste gênero, contrárias à fé ou aos bons costumes, não entrem em suas
casas e a atenção para que os filhos não os encontrem em outros lugares.
Outros
temas abordados são a comunicação social e a missão, as iniciativas dos
católicos, a formação técnica e apostólica para o uso dos meios de comunicação
e a instituição do Dia Mundial das Comunicações. O Inter Mirifica fala,
ainda, da valorização do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais e a
preparação de uma instrução pastoral pontifícia sobre a comunicação, para
tornar efetivos todos os princípios e normas relativos aos MCS.
Passados
50 anos da aprovação deste documento conciliar, reafirmamos que a missão da
Igreja passa necessariamente pelos MCS. Desde os seus albores, o cristianismo
está às voltas com a comunicação. O Mestre Jesus apresentou-se como comunicador
do Pai e seus discípulos espalharam-se pelo mundo para proclamar o Evangelho do
Reino de Deus. A Igreja jamais se furtou à missão de comunicar a fé a todos os
povos e por todos os meios. Contudo, com o aparecimento dos modernos meios
eletrônicos de comunicação, surgiram também alguns questionamentos fundamentais
da Instituição eclesial, frente aos inúmeros desafios trazidos por esta nova
cultura.
Na atualidade, o
chamado ciberespaço é o areópago atual, onde os cristãos são chamados a marcar
presença, procurando conhecer a sua linguagem, suas articulações e estruturas,
a fim de não se deixar contaminar pelos frutos anti-éticos que estão presentes
no mundo da web. Percebe-se,
portanto, que não se pode negar a capacidade da Internet de comunicar
informação de tantos gêneros. Porém, torna-se questionável a sua condição de
instrumento de evangelização, se o internauta “cristão” não passa da tela do
computador para o engajamento histórico – na comunidade cristã e na sociedade –sendo
transformado em adorador de um ídolo sem força de salvação.
O
discurso eclesial, desde os primeiros documentos sobre a comunicação do cinema,
rádio, televisão, demonstra o interesse do Magistério da Igreja pelos MCS,
ainda que de uma forma meio autoritária, vigilante e um pouco resistente, mas
sempre reconhecendo o valor destes meios, chegando a dizer no final do
documento Ética e Internet, “assim como o próprio mundo contemporâneo, o mundo
dos MCS, até mesmo a Internet, foi iniciado por Cristo – na sua forma mais
rudimentar mas verdadeira – dentro dos confins do Reino de Deus, e colocado a
serviço da palavra e da salvação”. Por tudo isto, demos graças a Deus.
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