terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Desafios missionários: “Dai-lhes vos mesmos de comer”

                    Caros irmãos e irmãs na fé e na missão recebam minhas saudações e desde já meus votos de um Feliz Natal. Graças à bondade e o amor infinito de Deus me encontro em paz e em boa saúde e disposto ao serviço da missão. O tempo do Natal que se aproxima nos faz reviver a vinda do Filho de Deus ao mundo para resgatar a humanidade marcada por inúmeras fragilidades e sofrimentos. Isto é para todos nós cristãos um convite a atualizar esta ação salvífica do Cristo lá aonde a injustiça, a ganância e o egoísmo de alguns geram uma imensa miséria e ameaça a dignidade da vida humana.
         Neste mês de muita sensibilidade aos que sofrem gostaria de lhes partilhar alguns desafios da missão “além-mares” aqui no continente africano! Nas últimas notícias que publiquei neste site falei um pouco dos aspectos materiais e do funcionamento da nossa paróquia para mostrar a realidade em que trabalhamos! Tendo em vista este panorama é que gostaria de continuar hoje com outros desafios que encontramos neste mesmo campo. Pois bem, um dos maiores desafios que enfrentamos todos os dias na região em que trabalhamos é em relação à vida material. Não falo das condições de vida do missionário mas as do povo que ainda são piores que as nossas. A pobreza nesta região desenvolveu automaticamente uma mentalidade de esperança em que os missionários trariam proteção, progresso e ajuda material. O que sempre aconteceu na medida do possível! Os missionários ajudaram com a criação de escolas, centros de saúde, água potável, estradas, pontes, etc. A partir destas obras de caridade necessárias e benéficas a evangelização se tornou ambígua para muitos que em vez de procurarem a Igreja como um meio de encontro com o Cristo, a procuram para poderem beneficiar dos bens que ela proporciona. Diante desta situação ambígua e da carência do povo, o que fazer? Certamente que as palavras de Jesus “Dai-lhes vos me de comer” ressoam sem cessar em nossos ouvidos. O grande risco do paternalismo sócio-religioso também nos questiona. Sem dúvidas o Evangelho se preocupa com a salvação do ser humano na sua totalidade, isto é corpo e alma.
Diante destas realidades difíceis os meus sentimentos são as vezes de frustração e de incapacidade. Certamente que ao me colocar à disposição da Igreja como missionário além fronteira a minha grande preocupação é a de anunciar o Evangelho aos povos que ainda não tiveram a oportunidade de ouvir a palavra de Deus. E eu posso agradecer a Deus por me ter enviado a estar em um lugar onde o povo está realmente abandonado em todos os pontos de vista. Aqui eu posso anunciar o Evangelho às pessoas que nunca ouviram falar de Jesus, a prova disso são os batizados de adultos que se realizam ao menos duas vezes por ano. Mas anunciar o Evangelho que é salvação, libertação e vida nova sem poder exterminar a miséria, o sofrimento e as injustiças que afetam o povo a cada dia é um grande dilema para nós missionários. O povo espera mais do que palavras, espera gestos concretos que demonstram a salvação, a vida nova que traz o Cristo. É aqui que nos sentimos as vezes frustrados, pois viemos anunciar a palavra de Deus, administrar os sacramentos, estar presente na vida do povo, formar comunidade com eles, amá-los, mais tudo isso parece não ser suficiente. A espera maior é pelos recursos materiais. Muitas pessoas nos procuram cada dia no escritório paroquial, poucos buscam um conselho espiritual ou o sacramento da confissão, a maioria busca ajuda material. E visto as nossas condições materiais somos as vezes incapazes de poder ajudar as pessoas, mesmos pessoas que estão realmente necessitadas. Quando ainda estava no Brasil eu nunca consegui negar uma ajuda a alguém que pedisse algo. Aqui no Congo varias vezes por dia tenho que negar ajuda a pessoas necessitados. A necessidade é tamanha que em todos os lugares que passamos somos solicitados! Si visitamos um doente ele não pedirá a Unção dos enfermos, mas pedirá para pagar seus remédios. Si visitamos um defunto seus familiares não pedirão a missa de corpo presente, mas pedirão para ajudar nas despesas do enterro. Se visitamos um prisioneiro ele pedirá para pagar sua fiança para que ele saia da cadeia, se olhamos uma partida de futebol pedirão bolas e chuteiras, se encontramos um viajante na estrada e pedira algo para continuar sua viagem, etc. Diante de todas estes pedidos incessantes temos que nos tornar surdos e duros de coração, embora o peso de consciência nos lembra “quando foi que te vimos com fome e não lhe damos de comer”. Na verdade o que podemos fazer é escolher onde e como ajudar de forma cristã e educativa. Entre os grupos mais desprovidos que estou construindo projetos para ajudá-los estão as viúvas que não tem família, as mães solteiras que foram vítimas de violência sexual em épocas de guerra e que hoje se encontram às margens da sociedade, outro grupo é os aleijados de nascimento ou vítimas de guerra que são as vezes excluídos pelas suas famílias.
         Caros irmãos e irmãs se narro estas situações constrangedoras que enfrentamos todos os dias na caminhada missionária não é para me lamentar do que estou vivendo, mas simplesmente para que vocês saibam exatamente por quais experiências passamos para que o Evangelho chegue até os confins do mundo. E que se temos forças para perseverar em tais situações é pela graça de Deus que nos tornou capaz de realizar a sua vontade e não a nossa própria vontade. Só o abandono e a entrega total nas mãos do Senhor pode nos ajudar a estar a serviço da construção do Reino de Deus. Todas estas dificuldades longe de me desanimar elas confirmam a necessidade  e o chamado de Deus para estar presente no meio deste povo sofrido. A salvação é mais que necessária aqui. A salvação aqui consiste em acordar as consiências adormecidas pelo sono da dependência externa e do complexo de incapacidade de construir com os próprios recursos um mundo melhor e mais justo. Se nos tempos antigos o Senhor enviou a estas comunidades missionários que tinham condições de ajudar estes povos materialmente nos dias atuais ele nos enviou sem muito recursos. Certamente que a nossa condição faz parte do seu plano de salvação para este povo. Nossas incapacidades nos revelam que a missão é obra de Deus, nao depende do nosso querer nem de nossas capacidades materiais ou intelectuais. Por tudo isso dou graças a Deus e continuo confiante na sua graça e da sua providência e assim tudo o que for de sua vontade será realizado. Termino pedindo as suas orações por todos os missionários e por todas as pessoas que acolhem a Boa Nova do Reino de Deus em sua vidas.
Pe. Márcio Macedo
Para contatos com os missinários de Nossa Senhora da África : SALVADOR, BAHIA
 Missionários de N.Sra da Africa
Paróquia Santa Mônica
Fazenda Grande I, Q. C; Rua Osvaldo Sá Menezes 387
Cajazeiras X, Cep: 41340-100 - Salvador- BA, Brasil
Tel : (**55) (71) 3395-2815 (secretaria) - (71) 3309-9658 (casa)
E-Mail : missionariosafrica@yahoo.com Site: http://missionarioafrica.net


                 marmissao@gmail.com

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