Neste mês de muita sensibilidade aos
que sofrem gostaria de lhes partilhar alguns desafios da missão “além-mares”
aqui no continente africano! Nas últimas notícias que publiquei neste site
falei um pouco dos aspectos materiais e do funcionamento da nossa paróquia para
mostrar a realidade em que trabalhamos! Tendo em vista este panorama é que
gostaria de continuar hoje com outros desafios que encontramos neste mesmo
campo. Pois bem, um dos maiores desafios que enfrentamos todos os dias na
região em que trabalhamos é em relação à vida material. Não falo das condições
de vida do missionário mas as do povo que ainda são piores que as nossas. A pobreza
nesta região desenvolveu automaticamente uma mentalidade de esperança em que os
missionários trariam proteção, progresso e ajuda material. O que sempre
aconteceu na medida do possível! Os missionários ajudaram com a criação de
escolas, centros de saúde, água potável, estradas, pontes, etc. A partir destas
obras de caridade necessárias e benéficas a evangelização se tornou ambígua
para muitos que em vez de procurarem a Igreja como um meio de encontro com o
Cristo, a procuram para poderem beneficiar dos bens que ela proporciona. Diante
desta situação ambígua e da carência do povo, o que fazer? Certamente que as
palavras de Jesus “Dai-lhes vos me de
comer” ressoam sem cessar em nossos ouvidos. O grande risco do paternalismo
sócio-religioso também nos questiona. Sem dúvidas o Evangelho se preocupa com a
salvação do ser humano na sua totalidade, isto é corpo e alma.
Diante
destas realidades difíceis os meus sentimentos são as vezes de frustração e de
incapacidade. Certamente que ao me colocar à disposição da Igreja como
missionário além fronteira a minha grande preocupação é a de anunciar o
Evangelho aos povos que ainda não tiveram a oportunidade de ouvir a palavra de
Deus. E eu posso agradecer a Deus por me ter enviado a estar em um lugar onde o
povo está realmente abandonado em todos os pontos de vista. Aqui eu posso
anunciar o Evangelho às pessoas que nunca ouviram falar de Jesus, a prova disso
são os batizados de adultos que se realizam ao menos duas vezes por ano. Mas
anunciar o Evangelho que é salvação, libertação e vida nova sem poder
exterminar a miséria, o sofrimento e as injustiças que afetam o povo a cada dia
é um grande dilema para nós missionários. O povo espera mais do que palavras,
espera gestos concretos que demonstram a salvação, a vida nova que traz o
Cristo. É aqui que nos sentimos as vezes frustrados, pois viemos anunciar a
palavra de Deus, administrar os sacramentos, estar presente na vida do povo,
formar comunidade com eles, amá-los, mais tudo isso parece não ser suficiente.
A espera maior é pelos recursos materiais. Muitas pessoas nos procuram cada dia
no escritório paroquial, poucos buscam um conselho espiritual ou o sacramento
da confissão, a maioria busca ajuda material. E visto as nossas condições
materiais somos as vezes incapazes de poder ajudar as pessoas, mesmos pessoas
que estão realmente necessitadas. Quando ainda estava no Brasil eu nunca
consegui negar uma ajuda a alguém que pedisse algo. Aqui no Congo varias vezes
por dia tenho que negar ajuda a pessoas necessitados. A necessidade é tamanha
que em todos os lugares que passamos somos solicitados! Si visitamos um doente
ele não pedirá a Unção dos enfermos, mas pedirá para pagar seus remédios. Si
visitamos um defunto seus familiares não pedirão a missa de corpo presente, mas
pedirão para ajudar nas despesas do enterro. Se visitamos um prisioneiro ele
pedirá para pagar sua fiança para que ele saia da cadeia, se olhamos uma
partida de futebol pedirão bolas e chuteiras, se encontramos um viajante na
estrada e pedira algo para continuar sua viagem, etc. Diante de todas estes
pedidos incessantes temos que nos tornar surdos e duros de coração, embora o
peso de consciência nos lembra “quando
foi que te vimos com fome e não lhe damos de comer”. Na verdade o que
podemos fazer é escolher onde e como ajudar de forma cristã e educativa. Entre
os grupos mais desprovidos que estou construindo projetos para ajudá-los estão
as viúvas que não tem família, as mães solteiras que foram vítimas de violência
sexual em épocas de guerra e que hoje se encontram às margens da sociedade,
outro grupo é os aleijados de nascimento ou vítimas de guerra que são as vezes
excluídos pelas suas famílias.
Caros irmãos e irmãs se narro estas
situações constrangedoras que enfrentamos todos os dias na caminhada missionária
não é para me lamentar do que estou vivendo, mas simplesmente para que vocês
saibam exatamente por quais experiências passamos para que o Evangelho chegue
até os confins do mundo. E que se temos forças para perseverar em tais
situações é pela graça de Deus que nos tornou capaz de realizar a sua vontade e
não a nossa própria vontade. Só o abandono e a entrega total nas mãos do Senhor
pode nos ajudar a estar a serviço da construção do Reino de Deus. Todas estas
dificuldades longe de me desanimar elas confirmam a necessidade e o chamado de Deus para estar presente no
meio deste povo sofrido. A salvação é mais que necessária aqui. A salvação aqui
consiste em acordar as consiências adormecidas pelo sono da dependência externa
e do complexo de incapacidade de construir com os próprios recursos um mundo
melhor e mais justo. Se nos tempos antigos o Senhor enviou a estas comunidades
missionários que tinham condições de ajudar estes povos materialmente nos dias
atuais ele nos enviou sem muito recursos. Certamente que a nossa condição faz
parte do seu plano de salvação para este povo. Nossas incapacidades nos revelam
que a missão é obra de Deus, nao depende do nosso querer nem de nossas
capacidades materiais ou intelectuais. Por tudo isso dou graças a Deus e
continuo confiante na sua graça e da sua providência e assim tudo o que for de
sua vontade será realizado. Termino pedindo as suas orações por todos os
missionários e por todas as pessoas que acolhem a Boa Nova do Reino de Deus em
sua vidas.
Pe. Márcio Macedo
Para contatos com os missinários de Nossa Senhora da África : SALVADOR,
BAHIA Missionários de N.Sra da Africa
Paróquia Santa Mônica
Fazenda Grande I, Q. C; Rua Osvaldo Sá Menezes 387
Cajazeiras X, Cep: 41340-100 - Salvador- BA, Brasil
Tel : (**55) (71) 3395-2815 (secretaria) - (71) 3309-9658 (casa)
E-Mail : missionariosafrica@yahoo.com Site: http://missionarioafrica.net
Pe
Marcio : marmissão@hotmail.com
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